Para voar como borboleta, primeiro pise como elefante.
- silvabragapaula8
- 1 de mai.
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Atualizado: 2 de mai.

Voos elevados começam no chão – e seu cérebro prova isso.
A neuroplasticidade, nossa capacidade de se remodelar, opera um paradoxo sábio: para se transformar (como borboleta), você precisa primeiro de estruturas estáveis (como elefante).
Por quê?
A neuroplasticidade só opera sobre bases consolidadas (= Elefante) . Hábitos, memórias e habilidades já dominadas criam a "base segura" para mudanças.
1% das sinapses se renovam diariamente (Borboleta = Plasticidade em ação) – mas só em um cérebro que já tem circuitos estáveis.
Traços "pesados" (hábitos, história) não são obstáculos: são o alicerce da mudança duradoura.
Essa lentidão não é falha é o sistema evitando colapsos, como um casulo que se fortalece antes do voo. A natureza não faz saltos: seja no cérebro ou nos ecossistemas, o tempo de elefante é o único caminho para resultados de borboleta.
Estabilidade elefantina (circuitos consolidados) + Plasticidade borboleta (sinapses renovadas) = Transformação sem colapso.Elefantes (grandes/densos) e borboletas (leves/frágeis) coexistem no mesmo ecossistema porque suas diferenças criam complementaridade (elefantes abrem clareiras onde borboletas põem ovos). Seus traços "pesados" criam condições para seus dons "leves". O 'passo de elefante' simboliza a autenticidade radical (valores, pensamentos e ações): mesmo que seu ritmo pareça 'descompassado' para quem só sabe marchar.
A pesquisa em psicologia positiva e teoria da autodeterminação (Ryan & Deci, 2001) demonstra que a autenticidade, o que não é apenas "ser você mesmo", mas envolve autorregulação integrada (Deci & Ryan, 2000), envolvendo ações alinhadas com valores intrínsecos e necessidades psicológicas básicas (autonomia, competência e relacionamento), é um preditor mais robusto de bem-estar do que a busca por perfeição.
Mas como isso se traduz no dia a dia? A ciência mostra que:
A autenticidade promove bem-estar porque reduz dissonância cognitiva (Festinger, 1957) e fortalece a coerência do self (Sheldon et al., 1997), enquanto a perfeição gera estresse crônico pelo medo de falhar (Frost et al., 1990). A perfeição é problemática quando associada a padrões rígidos (ex.: meta-análises ligam perfeccionismo mal-adaptativo a depressão; Curran & Hill, 2019).
Estudos revelam que imperfeições e vulnerabilidades, quando integradas ao self, podem funcionar como catalisadoras de crescimento psicológico (Steger et al., 2008), desde que contextualizadas em processos de aceitação e adaptação funcional.
Exemplo empírico: Em um estudo longitudinal, pessoas que priorizaram metas autênticas (alinhadas a valores) tiveram maior bem-estar do que aquelas focadas em metas extrínsecas (como aprovação social), mesmo quando 'imperfeitas' (Sheldon & Kasser, 1998).
Na prática profissional:
Um líder inovador (borboleta) usa processos consolidados (elefante) para arriscar com segurança.
Um artista criativo domina técnicas clássicas antes de improvisar.
Exemplo: Imagine Joana, uma pianista que quer ser mais improvisadora:
1. Identificando a Dicotomia: Ela sente conflito entre: “Meu elefante": Rigor técnico (anos de estudo clássico). “Minha borboleta": Vontade de tocar livremente
2. Transformando em Parceria: Em vez de pensar "Devo abandonar a técnica OU ser espontânea?", ela reframeia: Como meu rigor técnico (elefante) pode sustentar minha improvisação (borboleta)?
Resposta possível: "Minha precisão rítmica (elefante) dá segurança para eu arriscar harmonias novas (borboleta)"
Na natureza e na mente, o equilíbrio dinâmico pode ser maior que as dicotomias (Sistema que integra opostos em fluxo constante (como respiração: inspirar/expirar).
Para sair de dicotomias: Substitua "Isso OU aquilo" por "Isso E aquilo, na proporção X": Ex.: "Como ser tão resiliente (elefante) quanto criativo (borboleta)?
A natureza odeia falsas dicotomias: Florestas precisam de árvores e fungos. Seu cérebro precisa de estabilidade e plasticidade. Você precisa de raízes de elefante e asas de borboleta.
DESAFIO PRÁTICO:
Identifique um objetivo seu (ex.: ser mais criativo/empreendedor).
Pergunte: Qual meu "elefante"? (ex.: minha experiência em gestão de projetos). Como ele sustenta minha "borboleta"? (ex.: usarei métodos ágeis para testar ideias ousadas).
A natureza não faz saltos e você também não precisa. Seu próximo avanço não está em abandonar quem você foi, mas em reconhecer que raízes e asas são partes do mesmo sistema.
Pergunte-se: O que me fez chegar até aqui foi...
Minha busca por voos mais leves?
Meu cansaço de arrastar pesos que, na verdade, são raízes?
Seja qual for sua resposta, ela revela: você já tem dentro de si os dois lados da equação. Agora, olhe para suas mãos: elas podem ser tanto fortes como patas de elefante quanto sutis como asas de borboleta, porque autenticidade é habitar paradoxos.
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E no meio disso tudo o esquilo brincando entre os galhos sem se apegar ao peso deles nos lembra: Não é sobre escolher entre raiz ou voo, é sobre ser ambos. Já o macaco? ele derruba 50 frutas podres para achar 1 boa. Seu cérebro faz o mesmo: algumas "verdades" precisam cair para novas sinapses surgirem.
Viver bem é habitar contradições — não por confusão, mas porque a vida é assim: complexa, e a gente precisa ser flexível para navegá-la. Não se paralise nos extremos, viva a tensão criativa entre eles.
Referencias:
Steger, M. F., Kashdan, T. B., Sullivan, B. A., & Lorentz, D. (2008). Understanding the Search for Meaning in Life: Personality, Cognitive Style, and the Dynamic Between Seeking and Experiencing Meaning. Journal of Personality, 76(2), 199–228. doi:10.1111/j.1467-6494.2007.00484.x
Ryan, R. M., & Deci, E. L. (2001). On Happiness and Human Potentials: A Review of Research on Hedonic and Eudaimonic Well-Being. Annual Review of Psychology, 52(1), 141–166. doi:10.1146/annurev.psych.52.1.14
Curran T, Hill AP. Perfectionism is increasing over time: A meta-analysis of birth cohort differences from 1989 to 2016. Psychol Bull. 2019 Apr;145(4):410-429. doi: 10.1037/bul0000138. Epub 2017 Dec 28. PMID: 29283599.
Kashdan, T. B., & Rottenberg, J. (2010). Psychological flexibility as a fundamental aspect of health. Clinical Psychology Review, 30(7), 865–878. doi:10.1016/j.cpr.2010.03.001
Festinger, L. (1957). Uma teoria da dissonância cognitiva. Stanford University Press.
Sheldon KM, Ryan RM, Rawsthorne LJ, Ilardi B. Trait self and true self: cross-role variation in the big-five personality traits and its relations with psychological authenticity and subjective well-being. J Pers Soc Psychol. 1997;73(6):1380-93.
Frost, R. O., Marten, P., Lahart, C., & Rosenblate, R. (1990). The dimensions of perfectionism. Cognitive Therapy and Research, 14(5), 449–468.



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