Kit LEGO para a Alma Desbloqueada
- silvabragapaula8
- 28 de abr.
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de abr.
(Instruções: 1) Desmonte o sistema 2) Remonte com peças de cachorro, amigos e silêncio)
Há momentos em que a mente parece um deserto, as ideias não fluem, os projetos resistem, e tudo soa como um eco vazio, mas o inconsciente sabe, está lavrando o que você ainda não pode colher.
Então, paro.
Deixo o superego gritar no deserto.
Observo: Há uma sabedoria escondida no cansaço da mente quando as ideias se recusam a nascer. Não é preguiça, não é fracasso, é o solo em pousio (a pausa que nutre o futuro da lavoura). A terra precisa às vezes de silêncio para reter o que será colhido.
E então, simplesmente amo.
Sem pressa, sem exigência. Não o amor grandioso, performático, mas o que se revela nos gestos miúdos:
O cachorro que pressiona o focinho no seu pé como quem diz: "Estou aqui, e isso basta;”
Meus amigos, que convido a sujarem meu ateliê— um espaço sagrado onde o sério e o banal se misturam — e deixo entrar seus espelhos tortos: Eles trazem terra sob as unhas para meu chão estéril de perfeição.
- O que ri da minha pose de gênio sofrido, mostrando o absurdo do meu ideal do eu escorrendo tinta no chão.
- O que corta meu discurso com um "pra quê?" quando explico minha obra-prima, e de repente a justificativa soa como defesa de tese diante de pardais — que bicam migalhas de significado.
- O que invade com verdade ou desafio, e no meio da gargalhada me entrega de volta um fragmento de mim, aquele que perdi na última madrugada de crise criativa entre rascunhos amassados.
O simples ato de perceber a vida sem querer capturá-la para transformá-la em arte.
Nesse momento, algo se desbloqueia por entrega, não por força: o amor vira uma chave, a criatividade volta não como conquista, mas como efeito colateral de estar demasiadamente vivo.
O segredo talvez seja este: A mente criativa é ecológica. Precisa de afeto como raízes precisam de humidade. Quando você ama sem objetivo, restaura o fluxo. O amor limpa os olhos, e o que parecia bloqueio revela-se apenas respiração — o silêncio necessário antes da próxima criação.
A criatividade volta não como conquista, mas como efeito colateral de estar demasiadamente vivo.

O TUTORIAL IRONICAMENTE SECRETO:
Passo 1.: Desmonte o sistema (suas certezas, a pressão por produtividade, o mito do gênio solitário).
Passo 2.: Remonte com peças de cachorro, amigos e silêncio (Troque "Estou bloqueado" por "Estou em pousio" (até o deserto tem ecossistemas invisíveis).
Passo 3: Deixe o amor decifrar raízes enquanto o mundo conta batatas (produtividade tóxica).
A criatividade não é um Lego com manual de instruções — blocos pré-moldados nunca deixam espaço para o acidente brilhante, é a arte de sabotar a fábrica de ilusões. Desmontar o obsoleto. Remontar com o que sobra:
Peças perdidas (memórias que germinam no escuro)
Peças quebradas (fracassos que viram adubo para o próximo cultivo)
Peças emprestadas (amigos que chegam com martelos e cola, devolvendo seus cacos como mosaico)
E assim, o pousio se revela: o descanso não é fim, é a terra girando devagar para que tudo possa renascer.



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