top of page

Mexerica Doce: Como Não Confundir Carência com Suco de Laranja (e Outras Lições Afetivas)

Atualizado: há 4 dias

Ou: É tudo tentativa, jato no olho e ajuste de ângulo. E no final, o que importa é que o gomo foi dividido.


Tudo começa e termina num banco de ônibus desativado. Assim como essa foto que começa e termina com mexericas onde você não esperava.
Tudo começa e termina num banco de ônibus desativado. Assim como essa foto que começa e termina com mexericas onde você não esperava.


Física afetiva: A mexerica que espirra

Descascar mexericas é um ritual que revela verdades sobre o amor: o primeiro jato de suco no olho sempre vem. É lei da física afetiva - tão inevitável quanto a gravidade puxando a fruta madura para o chão.


OS JATOS VERBAIS DA VIDA COTIDIANA:

Enquanto os dedos furam a casca, o aroma cítrico explode no ar, e na comunicação humana acontece algo similar:


CRÍTICAS → quando o grito real era "estou machucado"

EXIGÊNCIAS → quando o pedido era "estou com medo"

SILÊNCIOS → quando precisávamos falar (ou falas quando precisávamos calar)


Nós, veteranos das mexericas da vida, sabemos: certas dores (como o suco no olho) são inevitáveis no amor, mas repeti-las sem aprendizado é escolha.


ALQUIMIA AFETIVA

Meu laboratório particular ficava num ponto abandonado da ladeira. Tardes douradas, cascas no chão, dedos grudentos de tentativas.


A DESCOBERTA NO BANCO DESATIVADO:

Foi ali, entre gomos, que entendi o processo de transformação:


MINHA FRUSTRAÇÃO: mensagens não enviadas

MEU DESEJO: carinho

MINHA OFERTA: silêncios cortantes


Era como depositar moedas num cofre sem fundo, esperando que virassem ouro por pura vontade. O suco doce escorria enquanto eu transformava desejos em exigências secretas, e carência em prova de amor.


TABELA DOS SILÊNCIOS: GOMOS DA MESMA FRUTA


Assim como descascar mexericas exige paciência, na comunicação alguns silêncios são gomos de entendimento, outros são cascas vazias:


TABELA DOS SILÊNCIOS

Silêncio- Observação

(comunicação autêntica)

Silêncio- Omissão

(dinâmica não relacional)

"Preciso processar" (Autocuidado: não transformo dor em projétil)

"Se me amasse, adivinharia" (Expectativa transformada em teste cego)

"Isso dói demais agora" (Preservação: protejo nosso vínculo do meu turbilhão)

"Nem vou falar, já sei que não adianta"(Ferida que se recusa a cicatrizar)

"Quero resolver sozinho primeiro"(Autonomia: ofereço presença, não dependência)

"Engulo palavras esperando sua ação"(Diálogo interno que vira cobrança)



E assim, enquanto descascava mais uma mexerica, entendi, anos depois, no mesmo banco: Há quem fique preso no ciclo automático (dos jatos de suco ou das palavras impulsivas). E há quem transforme o silêncio em ato de coragem - não como fuga, mas como escuta ativa. Há uma dignidade sagrada em calar necessidades quando o propósito é observar e não moldar.


Observar é um ato de humildade: é conter o impulso de exigir — de mim ou do outro — respostas que ainda não cabem no tempo certo. "Ainda não entendo meu próprio desejo" - essa admissão quieta reconhece que o solo do outro pode não estar preparado para receber minhas sementes.


Lacan lembrava que o desejo é um enigma; observá-lo é decifrá-lo letra por letra, não a golpes de vontade.

O FRUTO MADURO: COMUNICAÇÃO SEM ESPREMER

O suco doce da mexerica escorrendo pelo queixo me levou ao entendimento final: parceiros não são um estande de sucos. Não existe fruta perfeita, nem amor que não arda às vezes.


A ARTE DE SEGURAR A FRUTA:

  • Apertar demais = sufoca, exige, arde nos olhos

  • Segurar com medo = nunca experimenta o doce

  • Segurar com cuidado = permite que a doçura se revele naturalmente


COMUNICAR vs PROJETAR:


COMUNICAR (descascar com paciência):

  • Você assume que o outro não é adivinho (mas também não é inimigo)

  • Fala o que precisa, não como o outro deve entregar

  • Oferece espaço pro outro mastigar sua vulnerabilidade

  • Sabe que doar informação afetiva é diferente de cobrar reparação


PROJETAR (espremer até jorrar suco):

  • Confunde "eu me sinto sozinho" com "você me abandona"

  • Transforma desejo em dívida ("se me amasse, saberia...")

  • Usa a comunicação como termômetro pra medir amor, não como ponte

  • Expele suco ácido quando a fome é de outro nutriente


ree
Há coisas que só se experimentam plenamente quando nos permitimos ser vulneráveis à sujeira, ao excesso, ao incontrolável. Chupar mexericas é um treino para os amores que valem a pena, aqueles que deixam marcas de açúcar e ácido na pele e, mesmo assim, fazem a gente repetir: "Mais uma".

 

O BANCO DA VIDA


Ainda me sento no mesmo banco às vezes, mas agora com uma diferença essencial: se alguém disser "Você devia ser diferente", eu só ofereço um gomo de mexerica.


O APRENDIZADO QUE FICA:

  • Algumas frutas não estão maduras para nossas mãos

  • Algumas conexões não estão prontas para este momento

  • Isso não é falha da árvore, nem do freguês

  • Apenas a vida nos lembrando que amor não é sobre completar vazios


RELACIONAMENTOS MADUROS SÃO COMO MEXERICAS:

  • Aceitar que vão escorrer alguns erros (suco)

  • Ajustar o jeito de segurar (comunicação)

  • Saborear o que importa: a doçura que fica depois


OFERTA FINAL

Qual é o seu banco de ônibus abandonado? O lugar onde você lembra que a vida não precisa ser complicada para ser boa?

E quando a próxima mexerica escorrer pelo queixo, lembre: amor não se exige, se oferece, gomo a gomo, sem medo de ficar com os dedos melados.


E sigo balançando as pernas, sabendo que o amor que vale a pena nunca é uma cobrança, é um fruto maduro, pronto para ser compartilhado.



Encontrei essa mestra vestida de coração, me lembrando no balcão da feira a lição central: o amor, como a fruta boa, exige paciência para escolher e coragem para descascar. A vida não é sobre encontrar respostas, é sobre reconhecer os sinais.
Encontrei essa mestra vestida de coração, me lembrando no balcão da feira a lição central: o amor, como a fruta boa, exige paciência para escolher e coragem para descascar. A vida não é sobre encontrar respostas, é sobre reconhecer os sinais.











 
 
 

Comentários


Laboratório das Palavras Alquímicas. Rua dos Limiares, Entre-Lugares, Código de Entrega Poética, BRASIL

image.png

© 2035 by Papoula. Powered and secured by Wix 

bottom of page